Milena Loguercio

RELATO DO PARTO DO GABRIEL – somente escrito

A chegada do meu filho caçula não foi assim “exatamente como planejei”!

Eu realmente acreditei que não existiria mais o fator “surpresa” no meu parto; acreditei que eu estava super pronta e preparada por que já havia passado por isso antes e já não era mais “novo”, não me assustava mais a ideia do parto… Cheguei a relatar o parto do Felipe aqui no blog, neste post: Pensando-no-parto-do-Gabriel; assim como comentei em vários vídeos que eu torcia para que tudo ocorresse da mesma maneira que ocorreu no parto do Felipe.

Pois bem, Gabriel chegou me dando a primeira lição de todas que me dará no decorrer de sua vida: “nenhum filho é igual ao outro”

Tudo que contei no parto do Felipe, aconteceu completamente diferente! Claro, a alegria e emoção da chegada foi a mesma, queria reviver tudo da mesma forma, mas não posso comparar um parto ao outro.

 Eu já vinha sentindo algumas dores ‘”leves”, como comentei neste vídeo:  

 

Mas como no parto do Felipe tudo começou após o rompimento da bolsa, eu acreditei que aconteceria da mesma forma, então estava super tranquila, achando que as dores seriam simples dores… Sabe, a analogia que faço sobre tudo o que aconteceu comigo? Àquele ditado popular que “se me dessem 02 tartarugas para cuidar, uma teria fugido”. Sério, fico muito triste em concluir isso, mas minha médica havia me alertado e pedido que eu observasse alguns sinais que meu corpo me desse. Eram poucos os sinais, simples de observar e o papel estava fixado na minha geladeira como mostrei neste post: Atenção-aos-sinais-de-trabalho-de-parto

Deu tudo certo no final, mas, não fosse meu marido aparecer em casa “por acaso”, eu poderia ter tido meu filho lá mesmo, vou explicar por quê:

Era uma Terça-Feira, um dia chuvoso, temperatura bem amena; meu filho Felipe acorda e diz que está com dor de ouvido. Decido que o melhor a fazer é leva-lo no pronto socorro e vou tomar um banho para sairmos.

Quando estou de banho tomado, cabelo lavado, calcinha e sutiã, meu marido entra em casa e pergunta: “Onde você vai a essa hora?” Isso aconteceu pouco antes das 10 horas da manhã. 

Expliquei o que estava acontecendo com o Felipe, perguntei o porquê dele estar em casa aquela hora e ele me explicou que esqueceu uma chave do escritório… No meio da nossa conversa comento que acho que o Gabriel está para chegar por que as dores que estou sentindo estão aumentando. Conto que passei a noite inteira com contrações acompanhadas de dores. Mas, acrescento que acredito não estar em trabalho de parto por que elas não ficam o tempo que minha médica comentou e os espaços entre uma e outra não são longos… Ou seja, minhas contrações estava vindo em menos de 05 minutos entre uma e outra; eu sentia uma cólica quando elas chegava (totalmente suportável) e não duravam 01 minuto, duravam no máximo 20 segundos e na minha cabeça ficou marcado quando minha médica comentara que elas seriam mais longas…

No mesmo momento o Fernando me fez ligar para minha médica, contar tudo o que eu estava sentindo, mandou eu me arrumar e disse que iria levar a chave e voltaria para irmos para o hospital e somente depois levaríamos o Felipe no médico (sorte que ele parou de reclamar e não sentiu mais nada!).

Liguei para médica, ela comentou que o melhor a fazer seria mesmo ir para a Pro Matre por que com o dia chuvoso, a tendência seria ficar mais tempo no trânsito e ao iniciar meu trabalho de parto, seria mais rápido do que o Felipe (teoricamente) por que já tive o primeiro filho de parto normal ( Relato-do-parto-do-Felipe ). 

Assim, mesmo com muita vontade de ir fazer as unhas antes de ir para maternidade, dei ouvidos ao meu marido e à minha médica e AINDA BEM, fui para o hospital.

No caminho, as dores da contração foram aumentando ao ponto de tirar o cinto de segurança no carro para procurar uma posição melhor… Nesse momento, meu marido já havia alertado toda a família de que o “Gabriel estaria chegando”… e eu ainda tinha as minhas dúvidas, pode?! Duas coisas passavam pela minha cabeça: a bolsa não estourou e de acordo com a previsão, eu teria até 12 dias pela frente… 

Chegando no hospital, passei pela triagem e foi aí que acontecera a MAIOR FALHA DA Pro Matre. Eu admiro muito o hospital, mas verdadeiramente, acreditava que a enfermeira que estuda o assunto e trabalha com isso diariamente estaria muito mais preparada do que eu para identificar um trabalho de parto. Ao me examinar, ela não me identificou como prioridade máxima, não determinou que o meu caso seria o “mais urgente” quando ela dá aquela pulseira de urgência, sabe? Ela me deu a segunda mais urgente da escala das urgências e por conta disso, quase que o Gabriel nasce no próprio pronto socorro.

Depois de mais de meia hora na espera, as dores já estavam muito intensas e eu já não conseguia manter uma postura digna na frente dos demais pacientes e acompanhantes que aguardavam atendimento ali na recepção. Meu marido invadiu o corredor das salas dos médicos e me chamou. Paramos na porta da sala do médico plantonista e eu comentei o que estava ocorrendo.

Ele me perguntou: “Você é a fulana de tal?” 

Respondi: “Não, sou a Milena”

Ele disse: “Eu chamei a fulana de tal, você é a próxima” (A fulana de tal chamada pelo médico caminhava lentamente e com cara de paisagem, visivelmente sem nenhuma necessidade de atendimento urgente).

Expliquei: “Doutor, meu filho tá nascendo, já não estou aguentando as dores”

Ele repete: “Você é a próxima”

Eu insisto: “Então vou ter que ter meu filho aqui no corredor igual o que a gente escuta no SUS? Por que eu não vou voltar para a recepção ficar fazendo caras e bocas para as pessoas lá fora”

Nesse momento, algum anjo me levou à sério e me chamou. Era uma enfermeira que disse: “Senhora, entra aqui nessa sala que eu vou te examinar”

Quando eu retirei a calça para ser examinada, o “tampão do útero” saiu também. Já estava assustada, fiquei mais ainda. Comentei com a enfermeira, ela me respondeu que estava tudo bem, que ela me examinaria e que o doutor já viria me atender. 

Ao me examinar, notei no semblante dela que estava séria, foi pegar outro objeto (não consigo lembrar qual por que meu cérebro “desligou de detalhes” de tão apavorada que eu estava). Questionei: aumentou a minha dilatação?

Ela não falou nada, simplesmente balançou a cabeça séria para cima e para baixo várias vezes…

Eu perguntei: “Está em quanto?”

A enfermeira: “Tudo”

Comecei a chorar e a perguntar pela minha médica… não consigo precisar os detalhes de toda a movimentação da sala, tenho somente o relato do meu marido que me contou que ela gritou: “Vem doutor, está nascendo”.

Trouxeram uma maca que me levaria ao centro cirúrgico e quando levantei para passar de uma maca para a outra, minha bolsa estourou. Pensa! Mais desespero. Eu estava com muito medo nesse momento, não enxergava mais nada à minha volta. Lembro do médico me pedindo para deitar na maca e eu dizia que as dores eram mais fortes deitadas, que eu queria ficar sentada. Eles falavam que não poderiam me transportar sentada e que enquanto não deitasse não poderíamos ir… ou seja, a pressa era minha, a dor também, bora sentir dor!

Subimos, entrei numa sala de parto cesárea, completamente diferente da sala onde eu tive o Felipe, que foi uma sala completamente amigável, parecendo de um quarto da maternidade. Dessa vez, entrei numa sala cirúrgica mesmo. Mas nesse momento, a última coisa que passava na minha cabeça era “onde eu estava”. Na minha cabeça passavam 03 coisas: Anestesia, meu marido e minha médica. E era exatamente nessa ordem que eu queria. Primeiro de tudo eu PRECISAVA DA ANESTESIA. Entrei na sala pedindo isso, chorava dizendo que não foi assim que eu planejei, não foi assim que eu sonhei, além de dizer que não daria tempo da anestesia…

Ao ser colocada na maca onde o Gabriel nasceria, me deparei com uma enfermeira que me dera uma bronca: “Calma, respira, assim você não está ajudando o seu filho a nascer, vai dar tempo de tudo, vamos fazer tudo, mas você vai ter que colaborar, eu sei que dói, mas quando vier a dor você respira”. Isso foi dito num tom de bronca, meio como fazemos com nossos filhos quando fazem algo de errado, sabe? Não naquele momento por que eu não conseguia pensar em mais nada além das 03 coisas que comentei, mas depois, analisando tudo o que eu acabara de vivenciar, pensei na VALIOSÍSSIMA IMPORTÂNCIA do trabalho de uma DOULA e de quanto teria sido muito mais eficiente se ao invés de uma bronca ela me desse um abraço.

Mas a bronca serviu para eu “acordar” e raciocinar por que eu sempre ouvi histórias de mulheres que choram e gritam serem “judiadas” sofrendo mais do que precisa por que os profissionais acabam esperando mais para dar anestesia ou até não dão… enfim, senti muito medo de acontecer comigo e rapidinho eu tratei de “tentar” colaborar, embora as dores fossem realmente FORTES. Eu estava num ponto que começava a chorar ainda antes delas ficarem agudas só pelo fato de saber o que me esperava. E a minha colaboração fora nesse sentido, parei de chorar por antecipação, deixava pra sofrer no momento de  dores intensas.

Foi quando preparam tudo, inclusive o meu psicológico dizendo que teríamos tempo para tudo: anestesia, meu marido e minha médica… que eu não poderia me mexer por que fariam a anestesia… Assim como no parto do Felipe, tomei uma anestesia local para a preparação da anestesia para o parto e lembro que as próximas 04 ou 05 contrações ainda senti dores fortes, mas cada vez diminuindo mais até que como MÁGICA parei de sentir toda e qualquer dor e ali voltei a ser a MILENA. Como foi ótimo voltar a ser a Milena. Consegui me desculpar com todos pelo meu escândalo antes mesmo do meu filho chegar, consegui explicar que as dores eram realmente muito fortes e que a sensação que eu tinha é de eu eu explodiria ou estouraria, juro! E que mesmo involuntariamente eu fazia força de expulsão sendo que eu queria muito esperar a chegada do Fernando e da minha médica… NATUREZA, sábia natureza!

Dali em diante, meu pedido era pelo meu marido e pela minha médica. O médico do plantão me tranquilizou dizendo que meu marido já entraria e que ele não sairia dali enquanto minha médica não chegasse…

Me marido chegou, minha médica não, mas naquele momento já não fazia mais sentido não desejar a chegada rápida do meu filho: eu já não tinha mais dores, não estava mais assustada nem com medo, o clima já era de felicidade por que a enfermeira já estava minha amiga, o médico do meu lado, o anestesista conversando comigo e me tranquilizando; meu marido já estava do meu lado aguardando o nascimento do nosso filho… sim, faltava minha médica, mas meu filho queria vir para os meus braços, só cabia a mim recebê-lo… vem meu filho, vem!!!

Eu não me recordo quantas contrações eu tive ainda até ele sair de fato, mas não foram muitas… Gente do céu… não importa como seja a chegada: calma ou tumultuada; parto normal, natural ou cesárea; com sua médica ou com o plantonista; num dia ensolarado ou chuvoso; careca como o Felipe ou cabeludo como o Gabriel… É SIMPLESMENTE O MELHOR DIA DAS NOSSAS VIDAS… não importam os meios, O FIM É MARAVILHOSO! IMPAGÁVEL! 

Me recordo do médico segurando “embaixo dos panos que cobriam as minhas pernas” e eu pedindo insistentemente: “deixa eu ver, me dá meu filho, deixa eu pegar…” Enquanto ele “limpava” o Gabriel! E nosso encontro foi incrível mesmo sendo completamente diferente do Felipe. Eu viveria novamente tudo de novo por que a felicidade é tão intensa que esquecemos de todos os perrengues que passamos até o momento de tê-los nos braços.

ESTAMOS MUITO FELIZES!!!

Muitos Beijos!!!