Milena Loguercio

A DOR DE ACORDAR DE UM SONHO

A minha gravidez não desenvolveu.

Eu decidi postar os vídeos de tudo até aqui, por que fez parte da minha história e não conseguirei apagar nunca mais da minha memória, por isso, decidi que dividiria tudo com vocês sim até por que não sou feita somente de dias e histórias felizes e o quanto essa situação tem feito com que eu valorize ainda mais a vida e família que tenho.

Contarei toda a história em detalhes porém achei por bem iniciar com um resumo de tudo para as pessoas que entrarem nos meus vídeos e não entenderem nada!

Feito o resumo, começarei do começo!

Eu e o Fernando vínhamos falando deste assunto há um tempo… uns 8 ou 9 meses para ser mais exata.

Com 2 filhos, eu já falava em cirurgia plástica; cheguei a passar em consulta com o cirurgião e fazer orçamento até. Quando o Fernando me viu nessa empolgação, das duas uma:

Iniciamos uma era de discussões de relação por aqui! Discussões boas, se é que você me entende. Mas nossos “happy hours” passaram a ser para colocarmos nossos pensamentos com relação as diferenças entre uma família de 04 pessoas x uma família de 05 pessoas. Passamos a listar os prós e contras; a falar sobre como seríamos muitos integrantes e teríamos que trabalhar mais; a gostar da ideia (no caso eu, por que o Fernando sempre soube que ele queria 03 filhos); a amar a ideia; a sonhar com a ideia; a planejar a ideia; a executar o plano; a concretizar o plano; a comemorar a conquista; a implantar a existência deste ser que chegaria na nossa família em alguns meses; a fazer novos planos; a contar para nossa família e amigos; a tirar fotos considerando esse bebê na minha barriga; a falarmos dessa gestação como um novo integrante da nossa família…

Até que chegou o dia em que tivemos que lidar com a realidade, a mais dura e cruel que já tive que encarar em toda a minha existência. Sim, de fato a minha vida é maravilhosa. Esse item mais duro e cruel para mim é encarado pela medicina como “TÃO COMUM QUE  DE 25% A 30% DAS MULHERES PASSAM NA VIDA”. Eu não sou de falar palavrão nos meus vídeos e muito menos de escrevê-los nos meus posts, mas no momento em que isso acontece com você, posso dizer que você liga um grande FODA-SE à estatística.

No momento da sua descoberta (quando você quer mesmo o bebê, claro), o chão se abre sob os seus pés e parece que você cai tão fundo num vazio de escuridão tão grande que nem você mesma acredita que ele possa existir e você grita desesperadamente: “É isso mesmo, produção?” “Deus, cadê você? Por que está fazendo isso comigo? O que eu te fiz? Por que eu mereço isso? Você não vai me segurar? Me acordar desse pesadelo e faz com que eu descubra que foi só um sonho ruim?”

Com o tempo, você começa identificar as coisas mesmo no meio da escuridão e antes das luzes se acenderem você já começa entender que terá que lidar com isso e que OS SIGNIFICADOS QUE VOCÊ DARÁ PARA ESSA PERDA terão o poder de AUMENTAR OU DIMINUIR A SUA DOR.

Foi assim, mesmo que em meio a escuridão, a tristeza, a sensação de fracasso, a dor, a mais profunda dor que eu já senti; decidi que eu iria acender a luz, eu iria escalar esse poço no qual desabei e recomeçar. Dói, ainda dói. Mas estou buscando entender e aceitar o que aconteceu comigo. Decidi falar, resolvi mostrar tudo para vocês por que acredito muitas mulheres passam por isso, sofram muito e muitas vezes carregam sozinha o sofrimento. Você não tem ideia de como uma amiga que viveu uma situação parecida com a minha me ajudou MUITO.

Só o fato de saber que ela poderia me entender, fez total diferença. Me senti acolhida; da um conforto tão grande saber que eu tinha com quem dividir tudo o que eu estava passando que eu decidi fazer o mesmo por outras mulheres. Estou dividindo com você para o caso de você estar passando por algo parecido, sinta-se acolhida, me escreva, conte comigo. Eu te entendo!

O QUE ACONTECEU COM A MINHA GESTAÇÃO?

Ela não evoluiu. Meu embrião não chegou a ter BCF (batimento cardíaco fetal)

COMO FIQUEI SABENDO?

Como eu estava tentando engravidar, eu sabia a data de tudo! De cada detalhe: meu último ciclo menstrual; a data da minha ovulação; a data da minha nidação ; o dia em que fiz o meu primeiro teste de gravidez (e dera negativo); o dia em que fiz o meu segundo teste de gravidez (e dera positivo), etc…

Fiz o meu primeiro ultrassom no dia 13/07/2018:

Junto com o Beta HCG  que deu muito baixo = 160. De acordo com a médica do hospital: “Parabéns, você está grávida mas você descobriu muito cedo. Antes do Beta dar 2000 não conseguimos ver nada no seu útero”.

Meu segundo ultrassom foi no dia 27/07/2018:

Quando passei na médica, ela disse que ainda estava muito cedo. Provavelmente eu estaria de menos tempo de gestação do que eu acreditava estar já que não batiam as datas do meu último período com os ultrassons. Então ela sugeriu que eu repetisse o exame dali a 01 semana e foi enfática: “Daí temos que ouvir os batimentos cardíacos, mas se não acontecer eu quero que você saiba que não é o fim do mundo. Isso é muito comum acontecer quando há alguma incompatibilidade genética mas você é nova, saudável, pode tentar de novo a qualquer momento… bla bla bla bla bla bla… eu bloqueei, já não ouvia mais nada. Pensei: “Como assim? O que ela pensa? Claro que está tudo bem”.

Parenteses: Hoje eu sei que a evolução daquele embrião já não estava sendo de maneira satisfatória, lá atrás eu não parei para pensar nisso por que eu nunca acreditei passar por essa situação.

Meu terceiro ultrassom foi no dia 02/08/2018:

Esse só não foi pior do que meu último ultra. Meu marido foi comigo num ultrassom que estava marcado para 8:40h . Ele teria uma reunião as 10:30h do outro lado de SP porém queria “ouvir o coração do bebê”.  Resumindo, o laboratório atrasou tanto, tanto, que ele saiu quase 10h de lá e eu ainda não tinha nem entrado na sala. Conclusão: já entrei chorando para o exame e a médica passou uns 15 minutos só me acalmando para começarmos já que expliquei a tensão que eu estava e o quanto aquele dia era importante e pelo atraso meu marido não poderia estar do meu lado naquele momento.

Embora eu estivesse irritada com a médica pude sentir o quanto ela se sensibilizou com a minha situação e não sei dizer o quanto isso foi melhor ou pior para mim e já faço com que você consiga entender o meu raciocínio:

Fizemos o exame e a notícia que eu não queria escutar chegou: “Realmente não identifiquei batimentos mas se pegarmos todos os seus ultrassons vemos que o embrião está evoluindo, no primeiro só tinha uma leve formação de um possível saco gestacional; no segundo foi possível visualizar a vesícula vitelina ; e agora conseguimos ver o embrião, ou seja, ainda há a suspeita de que as datas que você passou não estejam batendo”.

Talvez, se a médica não estivesse tão sensibilizada com a minha emoção, ela teria sido mais enfática e realista nesse exame. Mas viverei com esse: “TALVEZ”.

Acredite em mim: não tive mais dúvidas, passei a acreditar piamente que as datas poderiam estar erradas e meu bebê teria menos tempo do que eu acreditava que tivesse. Sério, eu sabia cada data, mas nesse momento, eu não me senti me sabotando, eu ACREDITEI FIELMENTE NISSO. Uma crença inquestionável de que daria tudo certo e PONTO. Eu não questionei mais nada, só tive certeza.

Como eu estava com a viagem para Bariloche marcada para dali a 04 dias, cheguei para o Fernando e disse: “Chega, não vou voltar na médica, vamos contar para nossa família, vamos viajar; quando voltarmos eu começarei tudo de novo, daí o bebê estará maiorzinho, terá os batimentos, conseguirão estimar a data do parto e saberemos de quantas semanas eu realmente estou.

Fomos viver e fomos felizes nesse período, este bebê participou da nossa viagem como um integrante da família, vocês poderão ver nos vídeos dos vlogs de Bariloche em alguns momentos, como nessas fotos que postarei somente aqui:

Cerro Catedral – Bariloche – Argentina

Rua Bartolome Mitre – San Carlos de Bariloche

Meu quarto ultrassom foi no dia 20/08/2018:

Fui trabalhar no período da manhã, saí de lá, peguei meu marido e fomos para o laboratório. Estava atrasada a agenda para variar. O que conversamos na espera? Eu digo:

Chegou minha vez, fui para o exame mais difícil da minha vida.

Entreguei meus exames anteriores e adiantei a minha história. A médica não falava, estava quieta e séria. De repente a notícia: “É não tem mesmo batimento”. Pedimos que ela repetisse, por que eu não quis entender. Então ela falou: “Eu não identifiquei os batimentos cardíacos, não evoluiu mesmo.”

Pensa comigo, se fosse uma gestação saudável, no dia 20/08/2018 eu estaria com 9 semanas e 6 dias, já teríamos que ter ouvido os batimentos há quase 1 mês atrás e adivinhe qual foi a minha resposta?????

“DRA, SERÁ QUE EU POSSO TER ERRADO AS DATAS?” = NEGAÇÃO, MECANISMO DE DEFESA PSICOLÓGICA DO EGO. Afffffff, como somos humanos nesses momentos né! Neguei, não consegui aceitar. Então ela foi ainda mais clara:

“Não, você já está com um descolamento considerável, o embrião já está até danificado”.

Pronto, pode voltar lá no início desse post e começar tudo outra vez na parte onde eu digo: o chão abriu sob meus pés. Foi aqui, foi nesse momento. Foi uma eternidade esperar o laudo desse exame; eu sentia o meu corpo formigar, uma sensação horrível. Abracei o Fernando e não consegui me manter forte. Desabei.

Não foi fácil, não está sendo fácil, não esquecerei nunca… mas venho buscado formas de lidar com isso e acredito que NA MEDIDA DO POSSÍVEL, estou indo bem!

Quero falar com você a respeito de tudo isso nos meus vídeos assim que eu conseguir terminar as frases sem chorar. Prometo!

Acredito sim que Deus saiba de todas as coisas e que ele quer sim o melhor para nós. De alguma forma eu tinha que passar por isso e estou aprendendo a aceitar, diariamente.

Por fim, deixo para você o texto com o qual divulguei a minha mais profunda perda para minha família e amigos:

Para nossa família e nossos amigos…

Essa é a notícia mais difícil que eu já dei em toda a minha vida. Fizemos um ultrassom há poucos dias e descobrimos que a gestação não evoluiu, infelizmente.

Perdemos o chão, a esperança, a nossa família de 5 pessoas. Ganhamos o medo; a dor; o problema de contar para nosso filho mais velho que está comemorando diariamente a vida desse bebê; a tristeza de abrir os olhos deste sonho… enfim… simbólico, sabemos! Nossa médica tem nos confortado muito nos explicando o quanto isso é comum e nos dizendo que “emocionalmente” perdemos um filho porém para a ciência era um embrião de pouquíssimo tempo que será expelido naturalmente (se Deus quiser).

Pedimos desculpas por ter te envolvido nisso. De alguma forma acreditamos que nossa alegria deveria ter sido dividida com você e acredite, é muito dura a missão de ter que retirar essa informação.

Vai passar, iremos nos recuperar e se Deus quiser logo logo estaremos fortes e muitos felizes como sempre fomos, novamente. Acredito que coisas ruins venham para nos ensinar coisas boas. E que a vontade de Deus deve prevalecer sempre por que muitas vezes desconhecemos o que é “o melhor” para nós, mas ele, nunca.

Agradeço inclusive pela compreensão desse tempo que precisamos para negar a notícia, chorar, questionar para enfim aceitar.

Ficaremos bem! Amém.

Para finalizar, o vídeo onde conto sobre a perda com todos esses detalhes:

Enquanto eu fui feliz nessa gestação:

No vídeo abaixo eu conto sobre essa gestação:

Nesse vídeo conto sobre os primeiros exames, os medicamentos que estava tomando e o quanto eu estava feliz:

Muitos Beijos!!!